“Amor: Mãe, doce
remédio!”
Há algum tempo alguém me questionou sobre o que
promove saúde mental e na época do “dia das Mães” eu não poderia deixar de
falar de função tão essencial. Na verdade, como fundante do psiquismo humano,
jamais poderia deixar de através deste artigo homenagear minha mãe e todas as
preciosas mães de nossa comunidade.
A sabedoria popular já instituiu a máxima: “O amor
constrói”. Com certeza, este saber é confirmado quotidianamente, porém onde
estão seus alicerces? O único momento da vida em que o ser humano necessita de
amor incondicional é o amor de mãe! Explico. O bebê necessita que não o
privemos da sutil ilusão de ser ele o centro do universo: “sua majestade, o
bebê”. Nos primórdios da vida, formam-se os alicerces da saúde física e mental.
O bebê, ao nascer, depara-se com três grandes
desafios e tarefas integrativas ao psiquismo: continuar descobrindo ele mesmo,
o mundo e as pessoas. O período entre a concepção, o nascimento e os três
primeiros anos de vida são críticos para o desenvolvimento físico, emocional e
mental dos seres humanos. Felizmente, em nossa sociedade, há maior consciência
da importância da maternagem adequada, inclusive reconhecido direito
trabalhista de dedicação exclusiva da mulher operária ao recém-nascido. Este
requer a presença física de sua mãe, mas essencialmente necessita de sua real
presença afetiva, que esteja totalmente disponível para acolhê-lo e
tranquilizá-lo em seus primeiros meses de vida.
O bebê recém-nascido necessita que aqui fora
ofereçamos a ele um ambiente similar a um “útero artificial”, onde prevaleça a tranquilidade,
segurança, poucos estímulos externos e fundamental aconchego e carinho. Requer
ambiente de intimidade afetiva nos momentos de amamentação, quando recebe não
somente o alimento que sacia sua fome, mas também é alimentado afetivamente por
sua mãe através do aconchego em seu colo, do toque do olhar, da suavidade de
suas mãos, do acalanto tranquilizador, enfim de toda atenção que o investe de
humanidade. Todo e qualquer cuidado ao bebê é muito mais do que uma tarefa
prática, é antes de tudo o alicerce afetivo da boa auto-estima.
Resumindo, a mãe nutre seu bebê com o “leite materno
ou não” e também com gotículas de amor incondicional, cabendo ao pai do bebê
inicialmente favorecer e proteger este vínculo dual. Toda família deve se
mobilizar no auxílio e cuidado ao novo membro, colaborando em atividades
domésticas e isentando a nova mãe de sobrecarga física e emocional, pois ela
também precisa de colo. È nosso dever social propiciar a cada nova mãe
condições concretas e respaldo afetivo para que ela empreenda a delicada tarefa
de estar em sintonia fina com as necessidades físicas e emocionais de seu bebê.
Gradualmente o bebê irá se desenvolvendo e
gradativamente a maternagem suficientemente adequada o auxiliará no doloroso e
inevitável processo de abandono da ilusão inicial de ser ele o umbigo do mundo,
porém isto leva tempo...
Recomendo às futuras mães, pais e famílias que
acionem serviços especializados de orientação e tranquilização quando houverem
dúvidas em cuidados aos bebês e crianças pequenas, considerando a excelente
contribuição dos atuais grupos de orientação ás gestantes, pediatras, ,
psicanalistas de crianças, psicólogos infantis, psiquiatras infantis, etc. Desde pequena, a criança quando ajudada, pode
aprender a lidar razoavelmente bem com as suas circunstâncias e se desenvolver
bem, sem precisar estabelecer sintomas como meio de expressão de suas
dificuldades.
Receber o bebê com amor e carinho é a melhor maneira
de lhe dar boas-vindas ao mundo. Afinal, saúde mental se constrói através de
sólidos laços de ternura e mãe suficientemente boa é verdadeiramente um santo
remédio!
Eliane Pereira Lima
Psicóloga
CRP 06/43457
Veiculado em: Sexta-feira, 10 de maio de 2002, Jornal Todo Dia,
Americana-SP.