Síndrome do Ninho Vazio: acorda!
“Olho e sou visto, logo
existo!”
Winnicott
“Tudo vale a pena se a alma não é pequena.”
Fernando Pessoa
Vou falar hoje de
independência ou morte, de algemas partidas, pois laço jamais é prisão. “Ninho”
é uma metáfora linda e poética sobre o lar. Em tese, é o refúgio que ampara, abriga,
acolhe, protege, favorece, provê e contém. Dizem até que é o descanso do
guerreiro. “Vazio” ressalta o mérito do mesmo em dever cumprido. Deduzo que as
aves prontas já se foram, então, missão cumprida. Alçaram voo à aventura de
conquistar o encantador, divertido e imenso mundo. Belo e triste. Liberdade. Vida
(Ouça como a palavra soa). Assim, são os filhos... Viva! Ufa! Alívio aos pais,
finalmente tempo para mim...
Você já viu pássaros voando
abraçadinhos? Grudados podem bater asas? Impossível. Crescimento, desenvolvimento
e maturidade são intrínsecos à separação, autonomização, individuação e
reconhecimento das diferenças. Nossos filhos, cada um em seu tempo e ritmo
próprio, amadurecem. Graças a Deus, voam livres rumo ao seu destino. Diz o
poeta que eles moram lá na casa do amanhã onde não iremos habitar nem em
sonhos. Que bom! Que eles nos superem em tudo. Torço para que construam uma
vida significativa e plena em sentido. Vantagem afetiva é que não nos abandonam
nunca no bem querer. Diferente dos pássaros nós humanos possuímos vínculos. Sempre
que a saudade bate eles retornam barulhentos ao aconchego para trocar novidades.
Reabastecem a pilha afetiva e novamente lá se vão. Ainda, há vezes que nos
surpreendem e nos brindam em gratidão. Ocasionalmente podem até virem carinhosamente
para cuidar, mas sem serem escravos do amor. Ora eventualmente, se necessário, feridos
voltam para serem cuidados. Afinal, no ciclo da vida perda implica na sucessão em
ganhos. Há sempre troca nas relações e entre as gerações não é diferente.
Portanto, ultrapassamos etapas para conquistar degraus evolutivos. Aliás, somos
mantidos sempre bem vivos dentro das cavernas das lembranças e da saudade dos
que amamos e que nos amam mesmo depois de nossa morte. Sabia que os elos da
ligação emocional são invisíveis e muito mais resistentes do que imaginamos? Sobrevivem
a nós. Acorda! Distância, ausência e o tempo não destrói a eterna solda do
amor.
Agora vamos falar de
patologia. “Síndrome”, em medicina, remete à doença. Sinais e sintomas delatam
sofrimento. “Síndrome do Ninho Vazio” conta da dor mental de muitos pais,
predominantemente mulheres, que não lidam de forma serena com esta fase normal
da vida. Pode coincidir o agravo do padecer pela menopausa, aposentadoria e
envelhecimento. Desta forma, o ciclo natural da vida, pela exacerbação da
angústia de separação, poderá ser vivenciado com sentimentos de intensa
nostalgia, tristeza excessiva, abandono, insegurança, esvaziamento, inutilidade,
luto, desamparo, desespero e solidão. Existencialmente a pessoa se prende ao
leite que ferveu e derramou não se dando conta do que ainda sobrou na leiteira.
Afinal, não se atenta que ainda dá pra fazer do resto uma ótima coalhada ou até
um saboroso doce de leite. Como toda mudança na vida requer rituais de
passagem, flexibilidade e adaptação ao novo. Isto exige resiliência psíquica. Vemos aqui que
a estrutura de personalidade rachou e expôs a vulnerabilidade defensiva do
indivíduo. Explico. Freud, em 1926, já dizia que quando a angústia de separação
é excessiva, é vivida como um temor trágico de se ver só e abandonado, fonte
primeira de dor psíquica e de sentimento de luto. A dinâmica mental não
suportou a exigência imposta pelo desconhecido da quebra da rotina e ausência
do convívio cotidiano com a pessoa querida desvelando a fragilidade dos
alicerces do próprio eu. Assim, é denunciada a dificuldade particular em lidar
com separação e perdas. Qual a saída? Abra os olhos do coração. É chegado o tempo
de despertar! Necessário é aproveitar mais esta chance que a vida oferece e com
determinação agarrar a oportunidade de investir em si mesmo e fazer a sua vida
valer a pena. O maior desejo do ser humano é ser compreendido e ninho vazio é
sonho de liberdade.
Dicas que facilitam Enfrentar a Síndrome
ü Crise
é sempre oportunidade quando há sintoma psíquico pedindo socorro;
ü Não
engesse a vida e não paralise seus filhos, pois o tempo não espera;
ü Prevenção
do quadro começa ainda no berço com o aprendizado afetivo da constância do bom
e permanência do bem querer;
ü Tenha
um romance consigo mesmo: se liga em você!
ü Busque
ajuda especializada para organizar e desenvolver sua mente;
ü Agarre
a oportunidade de aprender a capacidade de ser e estar só, ou seja, domestique
a sua solidão;
ü Construa
ou resgate seu projeto de vida em que seja você o único autor e ator da sua
própria história (fatos) e estória (colorido que se dá aos fatos);
ü Não
tenha medo de vivenciar a descoberta de si mesmo;
ü Redescubra
e invista no relacionamento conjugal;
ü Retome
e enriqueça o projeto homem e mulher, comum ao casal, e que jamais se resume
aos filhos;
ü Apoie,
abençoe, orgulhe-se e deslumbre-se com o avanço e êxito de seus rebentos;
ü Resgate
seus sonhos e saboreie todo o prazer e a liberdade do novo tempo arduamente conquistado;
ü Priorize
vida de qualidade, que é fazer o que você particularmente prefere e gosta (é
muito diferente de “qualidade de vida” que segue protocolos universais);
ü Exercite
o corpo, a mente, a criatividade e o espírito: trabalhe, faça atividades
físicas, esportes, arte, lazer, cultura (cante, dance, pesque, adote um animal,
festeje, brinque com as crianças, leia, assista, conecte, viaje, ore, cultue
sua fé, pinte, borde, faça jardinagem, saboreie a culinária, celebre com os
amigos, conheça seus vizinhos, confraternize com a rede de parentesco mais
ampla, faça cursos, participe de grupos de apoio, converse com os jovens que
são revigorantes, troque experiências com os mais velhos, pratique o ócio
produtivo, politize, exerça cidadania, comprometa-se com uma boa causa, etc.);
ü Jamais
se esqueça: “o que conta na vida não é o que fizeram com a gente, mas o que a
gente faz com o que nos fizeram”;
ü Generosamente
seja voluntário, mas somente e após priorizar o que é seu, isto é, se ainda sobrar
tempo e disponibilidade afetiva se doe ao outro;
ü Lembre-se,
acima de tudo, “Quem ama liberta”;
ü Urgente,
faça amor com a vida;
ü E,
finalmente, desejo que seja sábio: - Viva e deixe viver!!!
“O que significa ‘cativar’?
É uma coisa muito esquecida, diz a raposa.
Significa ‘criar laços...’
... Só se vê bem com o
coração.
O essencial é invisível
para os olhos”
Antoine de Saint.Exupéry
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